segunda-feira, 26 de março de 2012

CHICO ANISIO - O MESTRE

 



Na última sexta feira, faleceu o nosso querido Chico Anysio. Ocorreram homenagens durante todo o fim de semana, em todas as emissoras de TV, fazendo com que olhássemos com real certeza que, ele é o maior humorista da Televisão brasileira. Digo é, porque jamais alguém tira o posto de alguém no nosso coração, mesmo após sua morte. A morte é a conseqüência de quem vive, mas a sua permanência em nosso coração é a conseqüência de um trabalho que envolve carisma e amor pelo que demonstrou ser sempre a pessoa que ama o que faz e o público que o fez.
Obrigado Chico (209 vezes Chico).

 E repasso a entrevista dada a REVISTA VEJA, na Edição de 06 de Julho de 2011

(...)
Como se confere a seguir, mostrou que continua o Chico Anysio de sempre: da Globo à família, não faltaram farpas para ninguém.

o senhor passou 110 dias no hospital, 78 dos quais na U11. Como se recorda do periodo? Fiquei dias sem saber onde estava ou o que tinha aconte­cido comigo. Mas lembro-me bem dos sofrimentos. A falta de água foi o pior: passei 45 dias sem ingerir líquidos por causa de uma infecção no pulmão. Sofri também por
. não poder falar. Eu queria pe­dir um café ou até mesmo di­zer para ninguém usar meu computador, pois não gosto que mexam nas minhas cosas. Mas não saía nada. Às vésperas de eu ir embora do hospital, o médico me disse que minha irmã (a atriz Lupe Giglioui, morta em dezembro passado) havia nos deixado enquanto eu estivera interna­do. Foi um baque.
o senhor voltou à TV com Sa­lomé, personagem que fez su­cesso nos anos 80 com seus telefonemas fictícios para o então presidente João Baptista Figueiredo. Por que a resgatou?
 Humor existe para de­nunciar. É típico de país em que há coisa errada. Por isso, achei correto voltar com a Salomé no momento em que temos uma presidente no po­der. Fiz vários quadros foca­dos no escândalo que envol­veu o (ex-ministro Antonio) Palocci, por exemplo. Se a Salorné fizesse de verdade aquelas perguntas à presi­dente Dilma Rousseff, ela não saberia responder.
Qual é sua opinião sobre o hu­mor na TV hoje?
 o assisto para não criticar. Já dei todas as opiniões que tinha de dar. Se não aprenderam, não aprenderão mais. o existe essa de humor antigo e hu­mor novo - ele ou é engra­çado ou é sem gra. Se Os Três Patetas estreassem ama­nhã, fariam o mesmo sucesso de antes. A TV brasileira co­mete o erro de menosprezar o humor do passado.
o senhor sempre bateu de frente com a direção da
Globo. Arrepende-sé de algo?
Sim. Errei ao falar mal da mãe do Jayme Monjardim (diretor da rede e filho da cantora Maysa, morta em 1977). Num dia de muito mau humor, escrevi para ele um e-mail cujo conteúdo nem gosto de repetir (Anysio desancava Monjardim de forma ignábil: "Dormi muito com a mãe dele"). Hoje, so­mos amigos. Pedir desculpas é meu esporte favorito.
O senhor já foi onipresente na TV. Qual a sensação de
cair no ostracismo?
Foi muito ruim. De 1957, quando entrei na televisão, até 2002, quando extinguiram meus programas, sempre fui der de audiência. Não sabia o que tinha feito de errado .:
Passei dias pensando em to­dos os diretores da Globo, um por um, para tentar che­gar a quem teria me boicota­do. Também pensei que os irmãos Marinho não gosta­vam de mim. Se o pai deles (Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, morto em 2003) estivesse vivo, eu não
teria saído do ar. Certa vez, eu lhe disse: "Dr. Roberto, eu me sinto dono de uma dessas pilastras aqui".
Ele respondeu: "Chico,
a TV toda é sua".

o que o senhor esperava da emissora?
 Sempre achei que a Globo me daria um cargo de supervisar de seu humor. Não aconteceu. O diretor que exerce a função que eu alme­java é o Guel Arraes. Não te­nho queixas dele, mas acho que seu humor não é popular como deveria ser.
Como assim?
A grande pla­teia do humor sempre foram as classes C, D e E. Todo o gênero se construiu voltado a elas. Mas a Globo esqueceu disso. Além do mais, tem apostado num sistema de temporadas com poucos epdios no qual não acredito. Fazer programas assim é fá­cil. Quero ver é criarem fe­nômenos duradouros, capa­zes de lançar bordões que se repitam nas ruas, como faço.

Como é a sua relação com a família?
 No Dia das Mães e no Natal, fanúlia é uma coi­sa maravilhosa. Mas para por aí. Família é problema. Essa é a dolorosa verdade. As pessoas esperam, no mí­nimo, solidariedade da famí­lia. E ela não dá isso, só co­bra. Tenho nove filhos, con­tando com um enteado e um adotado. Mas acho que só cinco sram a mim. Os otros quatro saíram às mães.· Com os que saíram a mim, tenho contato direto. Com os outros, quase nem falo.
É melancólico.


Fonte: veja, 6 de julho de 2011 – pag. 134,135

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