Na última sexta feira, faleceu o nosso querido Chico Anysio. Ocorreram homenagens durante todo o fim de semana, em todas as emissoras de TV, fazendo com que olhássemos com real certeza que, ele é o maior humorista da Televisão brasileira. Digo é, porque jamais alguém tira o posto de alguém no nosso coração, mesmo após sua morte. A morte é a conseqüência de quem vive, mas a sua permanência em nosso coração é a conseqüência de um trabalho que envolve carisma e amor pelo que demonstrou ser sempre a pessoa que ama o que faz e o público que o fez.
Obrigado Chico (209 vezes Chico).
E repasso a entrevista dada a REVISTA VEJA, na Edição de 06 de Julho de 2011
(...)
Como se confere a seguir, mostrou que continua o Chico Anysio de sempre: da Globo à família, não faltaram farpas para ninguém.
o senhor passou 110 dias no hospital, 78 dos quais na U11. Como se recorda do periodo? Fiquei dias sem saber onde estava ou o que tinha acontecido comigo. Mas lembro-me bem dos sofrimentos. A falta de água foi o pior: passei 45 dias sem ingerir líquidos por causa de uma infecção no pulmão. Sofri também por
. não poder falar. Eu queria pedir um café ou até mesmo dizer para ninguém usar meu computador, pois não gosto que mexam nas minhas coisas. Mas não saía nada. Às vésperas de eu ir embora do hospital, o médico me disse que minha irmã (a atriz Lupe Giglioui, morta em dezembro passado) havia nos deixado enquanto eu estivera internado. Foi um baque.
o senhor voltou à TV com Salomé, personagem que fez sucesso nos anos 80 com seus telefonemas fictícios para o então presidente João Baptista Figueiredo. Por que a resgatou?
Humor existe para denunciar. É típico de país em que há coisa errada. Por isso, achei correto voltar com a Salomé no momento em que temos uma presidente no poder. Fiz vários quadros focados no escândalo que envolveu o (ex-ministro Antonio) Palocci, por exemplo. Se a Salorné fizesse de verdade aquelas perguntas à presidente Dilma Rousseff, ela não saberia responder.
Qual é sua opinião sobre o humor na TV hoje?
Não assisto para não criticar. Já dei todas as opiniões que tinha de dar. Se não aprenderam, não aprenderão mais. Não existe essa de humor antigo e humor novo - ele ou é engraçado ou é sem graça. Se Os Três Patetas estreassem amanhã, fariam o mesmo sucesso de antes. A TV brasileira comete o erro de menosprezar o humor do passado.
o senhor sempre bateu de frente com a direção da
Globo. Arrepende-sé de algo?
Sim. Errei ao falar mal da mãe do Jayme Monjardim (diretor da rede e filho da cantora Maysa, morta em 1977). Num dia de muito mau humor, escrevi para ele um e-mail cujo conteúdo nem gosto de repetir (Anysio desancava Monjardim de forma ignábil: "Dormi muito com a mãe dele"). Hoje, somos amigos. Pedir desculpas é meu esporte favorito.
O senhor já foi onipresente na TV. Qual a sensação de
cair no ostracismo?
Foi muito ruim. De 1957, quando entrei na televisão, até 2002, quando extinguiram meus programas, sempre fui líder de audiência. Não sabia o que tinha feito de errado .:
Passei dias pensando em todos os diretores da Globo, um por um, para tentar chegar a quem teria me boicotado. Também pensei que os irmãos Marinho não gostavam de mim. Se o pai deles (Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, morto em 2003) estivesse vivo, eu não
teria saído do ar. Certa vez, eu lhe disse: "Dr. Roberto, eu me sinto dono de uma dessas pilastras aqui".
Ele respondeu: "Chico,
a TV toda é sua".
o que o senhor esperava da emissora?
Sempre achei que a Globo me daria um cargo de supervisar de seu humor. Não aconteceu. O diretor que exerce a função que eu almejava é o Guel Arraes. Não tenho queixas dele, mas acho que seu humor não é popular como deveria ser.
Como assim?
A grande plateia do humor sempre foram as classes C, D e E. Todo o gênero se construiu voltado a elas. Mas a Globo esqueceu disso. Além do mais, tem apostado num sistema de temporadas com poucos episódios no qual não acredito. Fazer programas assim é fácil. Quero ver é criarem fenômenos duradouros, capazes de lançar bordões que se repitam nas ruas, como faço.
Como é a sua relação com a família?
No Dia das Mães e no Natal, fanúlia é uma coisa maravilhosa. Mas para por aí. Família é problema. Essa é a dolorosa verdade. As pessoas esperam, no mínimo, solidariedade da família. E ela não dá isso, só cobra. Tenho nove filhos, contando com um enteado e um adotado. Mas acho que só cinco saíram a mim. Os outros quatro saíram às mães.· Com os que saíram a mim, tenho contato direto. Com os outros, quase nem falo.
É melancólico.
Fonte: veja, 6 de julho de 2011 – pag. 134,135
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